Tive um sonho…

TIVE UM SONHO

1. A Igreja, no sentido de corpo comunitário de Jesus Cristo ressuscitado, está ferida e lesada pelas Igrejas confessionais ainda hoje incapazes de articular a unidade no essencial e a diversidade como fonte de enriquecimento mútuo.

2. Através de aproximações multilaterais e convergências em cascata, tenta-se reconstituir o puzzle eclesial deslocado pelas nossas divisões históricas. O objetivo é refletirmos juntos uma Igreja segundo o Evangelho, ou seja, uma comunidade cristã unida e plural (cf. modelo trinitário).

3. Todas as igrejas precisam de passar por processos de conversão ao nível das doutrinas, instituições e práticas. Estes passos só podem ser bem-sucedidos num clima de oração penitencial, humildade não humilhante e reconciliação entre as diferentes tradições. É só o Espírito de Deus que pode reconstruir o puzzle evangélico, entre nós e connosco.

4. Nos nossos cabazes respetivos, carregamos connosco:

– os mais diversos carismas e dons específicos pelos quais damos graças

– desvios e infidelidades que devemos estar prontos a largar, para nossa libertação e para o serviço de todos.

– questões, como o serviço fraterno dispensado a outras igrejas, que possam ajudá-las a tornarem-se mais evangélicas

5. E se cada igreja, perante Deus e as outras igrejas, fizesse uma lista com verdade e humildade:

– dos seus carismas inalienáveis que considera dever oferecer às outras como um humilde presente

– das suas fraquezas e pecados para os quais se declara pronta a converter-se e a reformar-se

– dos seus desafios às outras para que cresçam com lucidez e vontade de

conversão?

6. Três princípios nunca devem ser esquecidos:

– o ecumenismo não é um status quo federativo, ou pura tolerância liberal, mas movimento que quer aderir ao plano de Jesus para a sua Igreja, a saber, o testemunho coerente de uma comunidade una e unida, mas também diversa e plural, não de acordo com o modelo humano mas de acordo com o sonho de Jesus, nosso Pastor

– os carismas específicos a cada uma das igrejas são frequentemente também o lugar que reúne as infidelidades que as impedem de serem compreendidas e acolhidas por outras; aquilo que possuímos de melhor deve passar pela conversão para ser partilhável e enriquecedor

– enquanto uma igreja considerar que tal questão é grave, todas as outras devem levá-la a sério, pois é um sinal de que algo importante está aqui em jogo; portanto, a priori, nenhum problema pode escapar ao diálogo, ao questionamento e, portanto, à reforma.

Quando é que teremos um vasto concílio universal que colocará tudo em cima da mesa, como um puzzle que já está a ser montado, tendo o cuidado de reunir todas as peças em falta, cada Igreja tentando ajustar as suas às outras, para que o rosto de Cristo possa brilhar novamente no mundo através do resplendor da Igreja das Igrejas?

Claude Ducarroz

(Texto amavelmente cedido a Joel L. Pinto, que o traduziu)

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