Testemunho de Teófilo Minga
Para mim, como para tantos dos seus conhecidos e amigos era o Professor Dimas. Ou simplesmente o Dimas, um bom amigo que foi meu professor de grego e de Teologia do Novo Testamento, no Seminário Presbiteriano de Lisboa, nos longínquos anos de 1975-1977. O Seminário estava então localizado na Avenida do Brasil.
Já foi há muitos anos, portanto. Uns 46 anos. E conservo ainda hoje a beleza e o encanto das lições do Professor Dimas, que também dominava os textos do Novo Testamento, a partir mesmo do original grego. Havia ali muito saber. Mas havia também muita sabedoria que eu sempre apreciei na sua abertura ecuménica, na seriedade da sua pesquisa e investigação. Sei mesmo que, dentro da abertura ecuménica que menciono e que foi para mim também aprendizagem, estava colaborando no projeto de tradução da Bíblia, dento da Conferência Episcopal dos Bispos portugueses. O Bispo responsável desse projeto era o Senhor Bispo de Viana do Castelo que partiu para junto do Pai celeste mesmo antes do Professor Dimas. Agora parte o nosso amigo Dimas também para junto do Pai celeste. Por estas mortes, muito provavelmente esse projeto ca Conferencia Episcopal portuguesa sofrerá muitas demoras. Mas é bom sublinhar nestes momentos, a colaboração que o Professor Dimas procurava dar a esse projeto que tinha por centro a Palavra de Deus, no Novo Testamento. O que o professor Dima, sempre amou. Tenho comigo o texto de 117 páginas que, creio, mandou ao Senhor Bispo de Viana do Castelo com traduções acabado ou projetos de tradução. Um texto escrito entre janeiro e agosto de 2020. Termina assim o seu texto: “E é louvável que a Conferência Episcopal Portuguesa tenha mostrado o seu desejo de ouvir outras vozes neste projeto de uma nova tradução da Bíblia. Procurei ser uma dessas vozes. Falece-me o tempo para mais. Literalmente, falece-me o tempo”. Pressentiria, já em 2020, exatamente há um anos que o seu fim estava próximo?
E o que ele fazia, nestes momentos, a nível de colaboração com os Bispos Portugueses, sempre o fez, a um nível de ensino com os seus alunos. Eu posso testemunhar com os alunos da minha geração, na segunda metade dos anos 70. Com um nível de profundidade quase levado ao extremo. Eu tinha sempre a aprender em qualquer das lições. O Professor Dimas sabia de facto, extrair desse tesouro único do Evangelho, coisas novas e velhas com a profundidade e a originalidade que a todos agradava. O Professor Dima sabia bem que desse Evangelho, riqueza com mais de 2.000 anos, há sempre coisas novas a descobrir. Era isso mesmo o Professor Dimas: um descobridor atento aos sinais dos tempos e às necessidades das pessoas no que se referia à interpretação do Evangelho.
E como bom pedagogo, bom conhecedor do grego bíblico, não deixava de encorajar os alunos de ir à raiz mesma da linguagem bíblia. O grego, neste caso, para o Novo Testamento. Bem me valeu, pelos anos fora, o grego que ali aprendi no Seminário da Avenida do Brasil. Mas a ciência não se opunha ao amor da Palavra. Um amor que se refletia na própria vida. Pude ler ao longo dos tempos alguns textos do Professor Dimas. Um deles sobre a Tradução da Bíblia que já mencionei. Outro, escrito também o ano passado, em abril de 2020, tem por título: UMA ORAÇÃO POSSÍVEL NUM TEMPO (IM)POSSÍVEL . Uma oração, muito bela e muito profunda em tempos de coronavírus. Li-as, por mais de uma vez. Termina assim: “Senhor: ajuda-nos a transpor as nossas fronteiras contigo! Sim, contigo! Ajuda-nos a transpor os confinamentos religiosos que temos fabricado por nós mesmos e contra ti. Liberta-nos desta esclerose mortal, num mundo, o nosso, à procura de si mesmo, no labirinto de um desnorte que, no fundo, vive em registo trágico (miticamente) a sua sede de sentido!” ( 2 Tim 4, 7.8). Hoje, junto a Deus, o nosso querido amigo Dimas já transpôs todos os confinamentos possíveis encontrando assim a plenitude de sentido que toda a pessoa humana procura para a sua existência.
E agora, junto a Deus tantas e tantas interrogações, tanta e tantas dúvidas terão encontrado, enfim, as suas respostas, as suas certezas. Terminou a caminhada que no fundo é a caminhada da vida terrestre, para se abrir à caminhada sem fim nos sendeiros celestes, junto a Deus. Pode-se-lhe aplicar a palavra do apóstolo Paulo, no entardecer da sua vida, dirige ao discípulo Timóteo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda”. É isso, também nós estamos no número dos que esperam a vinda do Senhor. E também nós estamos a caminho, como o Dimas esteve. Por isso ficam bem agradecer-lhe neste momento o seu combate, o bom combate que ele bem levou até ao fim. E poderemos dizer-lhe muito simplesmente: até logo, querido Dimas. Quando Deus quiser, nos encontraremos de novo, na plenitude da luz, que aqui procuramos um pouco as apalpadelas. Chegaste à meta. Continua ainda a rezar por nós, para que um dia, contigo, estejamos banhados na plenitude da luz que agora irradia na tua fronte. Irradiará também na nossa. E livres de toda a dúvida e de toda a interrogação, passadas que foram a fé e a esperança que conduziram a nossa caminhada, viveremos juntos a plenitude do amor a Deus. O amor a Deus que sempre esperámos e que, agora, finalmente, acolhemos na sua plenitude.
Teófilo Minga é Religioso irmão na congregação dos Irmãos Maristas; licenciou-se em Matemática na Universidade de Lisboa e ensinou a disciplina nos Colégios Maristas de Luanda e Carcavelos, após o que estudou Teologia no Seminário Evangélico de Teologia. Concluiu os seus estudos teológicos na Universidade de Friburgo (Suíça) tendo sido nomeado, em seguida, professor de Teologia Dogmática na Universidade Marista Internacional do Quénia. Reside atualmente em Roma. O texto é publicado em simultâneo com o 7MARGENS.