Recomeçar a Igreja?

É com temor e tremor que “Itinerários” propõe um dossier sobre a crise do cristianismo ocidental, consciente de que o tema é frequentemente abordado de maneira subjetiva e simplista, de tipo “copo meio cheio ou copo meio vazio”, finalmente sem grande interesse!

Horizonte atual da Igreja

Otimistas ou pessimistas, não podemos deixar de constatar que a erosão do cristianismo institucional e cultural, ocidental, se tornou numa realidade manifesta. À primeira vista, nada de grave. Contam-se atualmente no mundo cerca de 1.3 milhar de milhões de católicos, 1000 milhões de protestantes e 200 milhões de ortodoxos, ou seja, um total de cerca de 2,5 milhares de milhões de cristãos batizados! No entanto, apesar destes números prometedores que ainda nos autorizam considerar o cristianismo como a religião que reúne mais adeptos em todo o mundo, um dos grandes títulos da atualidade religiosa ocidental dos últimos anos, tanto na Europa como na América do Norte, tem sido o rápido declínio do cristianismo ocidental. Este desgaste manifesta-se particularmente na frequentação dos cultos, na diminuição do número de eclesiásticos, na afirmação das identidades religiosas e na perda de influência social.

Entre a esperança e o sentimento de urgência

Se é verdade que, durante o século passado, assistimos a um crescimento exponencial do protestantismo de tipo evangelicalista, a uma transferência espectacular do cristianismo do Norte para o Sul e ao crescimento, igualmente surpreendente, das Igrejas coreanas e chinesas, a verdade é que os números publicados na 3ª edição da World Christian Encyclopedia [Edimburgh University Press, 2019], obra de referência em termos de estatísticas atuais e de projeções para os próximos anos, revelam-nos que o cristianismo tanto cresce em termos absolutos como diminui percentualmente. Segundo os histogramas da WCE, 34,5% da população mundial era cristã em 1900 e só 32,3% em 2020! As projeções são, aliás, pessimistas, prevendo-se um aumento significativo do Islão. Mas os números são ainda mais assustadores no que diz respeito às Igrejas tradicionais. Na Suíça, por exemplo, país profundamente marcado pelo cristianismo e pelos seus valores éticos, onde protestantes e católicos romanos se equilibram numericamente e colaboram ativamente, as Igrejas cristãs desvanecem-se progressivamente na paisagem social. Cerca de 50% dos crentes reformados e 30% dos católicos deixaram de frequentar as Igrejas! Genebra, a pátria do presbiterianismo mundial, conta atualmente entre 9 e 12% de fiéis Reformados! Na Alemanha, outro país confessionalmente equilibrado, um estudo feito pela Universidade de Freiburg-im-Bresgau, publicado pela Conferência Episcopal e pela Igreja Evangélica Alemã (EKD, formada por Luteranos e Reformados) em 2019, revela que até 2060 a EKD perderá 51% dos seus membros, e a Igreja Católica 48%, devido à queda dos batismos e à progressiva desvinculação religiosa das pessoas…

Comentando esses números, o cardeal Reinhard Marx, presidente da Conferência Episcopal alemã, declara: “Não entremos em pânico com essa projeção, mas adaptemos o nosso trabalho em conformidade com ela”. E acrescenta: “as pessoas precisam sentir com mais vigor o poder que emana da mensagem de Jesus Cristo”, “o que importa é que nós, como Igreja, passemos a ser tão convidativos que as pessoas queiram juntar-se a nós”. De acordo. Mas será possível que as igrejas se mantenham “zen” em tais circunstâncias de perda acelerada de militantes? E que tipo de “adaptação do trabalho” é que se prevê? Como modernizar a Igreja sem perder pelo caminho aqueles que ainda assistem regularmente às missas ou aos cultos? Que significa o aumento do número de cristãos que recusam as etiquetas eclesiásticas tradicionais? Será que as igrejas encaram a possibilidade de implementar uma pastoral adequada a estes “cristãos sem Igreja”? Será que a inovação, em termos eclesiásticos, é um progresso?

Esperamos poder abordar algumas destas questões de maneira aberta, sem preconceitos…

Joel Lourenço Pinto

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