Guerra ou Paz ?

Situação de guerra na Ucrânia, agressão russa….Como pensar nestas circunstâncias? Recorro a Ellul* e à sua reflexão “contra os violentos”.

Primeira constatação: a violência é uma realidade! Já me tinha esquecido disso, tão preocupado que estava com a não-violência. A realidade tornou-se-me presente e inegável. Primeiro em Haiti, e agora ainda mais pelos acontecimentos atuais

Duas observações de Ellul vieram estimular a minha reflexão:

  • Há dois aspetos a considerar, a legitimidade e necessidade
  • O uso da violência é sempre um ato de simplificação

Como não-violento convicto, interrogo-me sobre o que faria na Ucrânia. E respondo a mim próprio que a defesa é um ato necessário. Lembro-me das perguntas feitas nos julgamentos dos objetores de consciência suíços: se a sua família fosse atacada, o que é que faria? Existe, de facto, uma noção de necessidade. Quando não se sabe o que fazer, quando se tem de reagir quase instintivamente, trata-se de uma questão de necessidade. O que não significa que a violência deva ser geralmente legitimada.

E é verdade que uma reação que não deixa tempo para reflexão (mas nem sempre temos tempo para nos prepararmos, para reflectir!) é um ato de simplificação.

E é aqui que me confronto com o meu idealismo não-violento. Ellul lembra-nos que o realismo deve proibir-nos de aceitar falsas soluções e compromissos que só aparentemente apaziguam a violência. E que a partilha do sofrimento pode levar um cristão a usar a violência. Mas isto significa que ele caiu de novo numa situação de necessidade. Mas quem pode afirmar que nunca caiu?

Ellul insiste ainda que a violência gera sempre violência, e que aquele que a utiliza procura sempre justificar-se a si próprio e justificá-la. Isto é óbvio na atual situação de agressão Rússia à Ucrânia. Putin justifica-se a si próprio (!?!) e por isso justifica a violência que usa. Mas também podemos recordar inúmeros atos (cruzadas, colonialismo…) que apresentam o mesmo mecanismo! Mas o importante é que ele saiba que se trata sempre de um ato que ofende a Deus. O que é inaceitável para a fé não é tanto a violência como a sua justificação.

As minhas conclusões? Continuo a considerar que a não-violência é relevante, mas que existem circunstâncias em que já não é possível fazer uma tal pergunta, onde se deve agir instintivamente, sem compromissos. Compromissos que só aparentemente apaziguariam a violência durante algum tempo.

Este é, para o idealista que sou, um difícil retorno à realidade… que mal mudou durante séculos!  

  • Jacques Ellul, “Contre les violents”, Le Centurion, Paris, 1972

Alain Schwaar, jurista, assitente social e formador, foi missionário em Moçambique e é diácono da Igreja Reformada Suíça. É um leitor atento de Jacques Ellul

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